Foto: Márcia Francisco
A psicóloga e diretora do CENSA Betim, Natália Costa, o defensor público da Defensoria Pública de Minas Gerais, Luis Renato Braga Arêas Pinheiro, a mestre em Neurociências pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), Virgínia Nunes Viana e outros convidados, participaram da sessão
- Por: Jornalista Felipe de Jesus
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O dia 20 de agosto foi marcado por mais um grande passo a favor das pessoas com deficiência. Isso porque na data foi realizada uma audiência pública na Assembleia Legislativa de Minas Gerais (ALMG) para debater as atividades do Centro Especializado Nossa Senhora D'Assumpção - CENSA, situado no município de Betim/MG. A sessão solene foi solicitada pelo vice-presidente da Comissão dos Direitos da Pessoa com Deficiência da Assembleia Legislativa de Minas Gerais (ALMG), Duarte Bechir (PSD), para mostrar o trabalho realizado pelo CENSA Betim, bem como, para celebrar os 55 anos da entidade. A audiência foi transmitida ao vivo pela TV Assembleia.
Contemplando o evento, estiveram presentes, a diretora e psicóloga do CENSA Betim, Natália Costa, o defensor público da Defensoria Pública de Minas Gerais, Luis Renato Braga Arêas Pinheiro, e a mestre em Neurociências pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), Virgínia Nunes, o economista, professor do IBMEC e da PUC Minas, Dr. Marcelo Simão Lima, o professor de educação física, Davi Gabriel e a musicoterapeuta Barbara Carvalho, ambos do CENSA Betim e outros convidados. Antes de dar início às atividades da audiência, uma apresentação musical foi realizada pelos educandos da instituição.
A diretora e psicóloga do CENSA Betim, Natália Costa início à sua fala agradecendo a oportunidade de estar ali. Na ocasião, ela falou sobre a importância da intervenção transdisciplinar, bem como do acolhimento e orientação da família, trabalho que o CENSA Betim tem coo prioridade. Diferentemente do que muitas famílias acreditam, nem sempre a resposta para acalmar o filho é encontrada na terapia medicamentosa.. "O trabalho do CENSA Betim, é embasado na realidade e acima de tudo na transparência. Para cuidar dos educandos, é preciso da colaboração de mais de 120 profissionais, já que cada educando demanda uma atenção diferenciada. Por isso a nossa missão é qualidade de vida e educação socializadora, a fim de que eles se sintam ainda mais confortáveis e acolhidos", explica.
Segundo Natália Costa, o trabalho feito no CENSA Betim visa apoiar e não substituir a família. Não existe abandono de filhos no local. "O CENSA não é um serviço substitutivo das famílias, mas sim um apoio especializado. No entanto, vejo que ainda é preciso mudar esse conceito que leigos no assunto têm de que a família deixa os filhos lá sem se preocupar. No CENSA temos pessoas muito amadas e cujas famílias também são alvo de intervenção, acolhimento e parceria. Por isso não existe abandono! O maior medo dos pais é de deixar seus filhos sozinhos após a sua velhice ou morte. Não se contempla então a questão do envelhecimento. É preciso olhar
para esse tema com muita responsabilidade, para dar uma vida melhor tanto para a família, quanto para o indivíduo com deficiência intelectual grave", pontua.
Dando sequência, o professor de educação física, Davi Gabriel, que já está há mais de três décadas no CENSA Betim, falou sobre seu trabalho no local e como ele divide as atividades. "Temos muitos alunos com vários tipos de deficiência e quadros complexos. Alguns mais limitados e outros menos. Prova disso é que em alguns momentos, nos deparamos com alunos com a aptidão física de qualidade e precisamos desenvolver essa habilidade. No CENSA temos vária modalidades esportivas. Como a Bocha, Atletismo, futebol e a natação. Todas as modalidades têm como função desenvolver o aluno para competições, para saber lidar com a alegria das vitórias e a frustração de perder campeonatos. Se o educando tem desenvoltura para a natação, estimulamos a natação, mas se tem para a Bocha, incentivamos o treino da Bocha. O esporte é para todos, por isso fazemos questão de trazer isso para eles", conta.
Para a musicoterapeuta Bárbara Carvalho, a atividade que ela desenvolve traz para o educando uma gama de possibilidades. "A musicoterapia é uma prática de intervenção que usa a música, a interação com o som e seus benefícios. O CENSA Betim tem um público bem diverso, heterogêneo, mas isso não é problema, uma vez que a musicoterapia se adapta a todos os públicos. É uma prática integrativa já reconhecida pelo SUS. O olhar que temos que ter, é que a música é uma linguagem universal. No Censa atendo todos os grupos e sou muito grata pelo trabalho que faço. É incrível", disse.
Além da Defensoria Pública de Minas Gerais e representantes de outras instituições, outros convidados também falaram sobre a excelência do local, como, a mestre em Neurociências pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), Virgínia Nunes Viana. Ela, que é da Faculdade Pitágoras, disse que poder aliar o campo acadêmico com a realidade no CENSA Betim é gratificante. "Com alegria que parabenizo o CENSA Betim através da Faculdade Pitágoras. Assim, como psicóloga Natália Costa, ter pessoas capacitadas para tais atividades, como, as da instituição, é um desafio! Por esse motivo, vejo que ter essa aproximação da Universidade, através dos alunos de Psicologia, com os educandos da instituição, faz total diferença. Não damos apenas uma formação acadêmica, mas técnica e acima de tudo humana. Obrigado pela parceria entre CENSA e Pitágoras e parabéns pelo excelente trabalho!", agradece.
Satisfação
Além dos especialistas, familiares que vivem na pele a situação de ter um filho bem amparado pelo CENSA Betim, também falaram sobre o apoio do local. A presidente da Associação Mineira de Amigos e de Pessoas com Epilepsia, Denise Ferreira, que é mãe de uma pessoa com deficiência, disse que tem medo de falecer e deixar a filha desamparada. "Na minha ausência, quem vai cuidar dela? Ela é muito feliz, mas será que vai continuar sendo a pessoa feliz que é hoje? O que sabemos é que hoje existe uma grade de políticas que são claras para criança e adolescente com deficiência. No entanto, e depois dessa idade?", perguntou a mãe.
Estela Guillen de Souza, da Associação de Pais e Amigos de Pessoas Especiais (Apape), disse que ter o seu filho no CENSA Betim é uma imensa alegria. "Tenho um filho atendido na entidade, com o comprometimento de suas atividades 100% mesmo! Meu filho é muito feliz no CENSA Betim. No entanto, o problema que vemos hoje no geral, é que a maioria das pessoas não possui esse acesso para deixar o filho lá. Por isso é preciso mudar o olhar em relação a essa situação no Brasil", disse.
Maria Irismar Queiros, filósofa, teóloga e psicopedagoga do Colégio Santa Doroteia, deu seu depoimento acerca da importância da parceria do CENSA com o colégio. "Para nós, do Santa Doroteia, a parceria desses anos com o CENSA, nos trouxe outra perspectiva sobre conviver com as diferenças. Nossos alunos adoram o projeto e já envolvemos toda a comunidade escolar, inclusive os pais.", assevera Maria Irismar.
Para o defensor público da Defensoria Pública de Minas Gerais, Luis Renato Braga Arêas Pinheiro, da 2ª Defensoria de Família, que também tem um filho autista, o CENSA faz um trabalho exemplar primando pelo amor e solidariedade. "Fico emocionado ao falar do CENSA, pois ele foi o primeiro lugar que me tocou a trabalhar com essa área. Fiquei feliz por saber que existe uma entidade assim e que trabalha não focado na deficiência das pessoas, mas sim, nas habilidades delas. Quem é pai e mãe sabe o que as famílias passam para poder cuidar dos seus filhos nessa situação. O CENSA faz um trabalho de muito amor e com resultados incríveis para essas pessoas. Quem perde é a sociedade que não evoluiu com eles", conta.
CENSA
O CENSA foi fundado em 1964 pela educadora Ester Assumpção, mulher à frente de seu tempo, que trabalhou com Helena Antipoff no Instituto Pestalozzi. Dona Ester, como era carinhosamente chamada, acolhia em seu próprio lar crianças com deficiência cujas famílias não podiam fixar residência em Belo Horizonte. Assim nasceu o CENSA, de um sonho, um ideal de uma educadora, cujo desejo de cuidar e amparar crianças com deficiência e suas famílias era genuíno e se materializou em quatro instituições por ela fundadas: CENSA, APEX, Instituto Ester Assumpção e Clínica São José.
"Lembrar de Ester Assumpção é honrar nossas raízes, zelar por esse legado que recebi e sinto-me privilegiada de servir com afinco e alegria. Sou da terceira geração de gestoras de uma organização que nasceu, primeiro no coração de uma mulher magnífica, e se materializou através de muitas mãos, sendo hoje referência nacional no atendimento transdisciplinar da pessoa com deficiência intelectual na idade adulta", pontua Natália Costa.
Natália Costa lembra que milhares de pessoas tiveram suas vidas transformadas pelo CENSA. "Nesses 55 anos, mais de dois mil alunos com deficiência intelectual já passaram por aqui, o que ajudou não só as famílias dos educandos, estimulando a inclusão e a educação, como também na formação de mão de obra especializada, já que antigamente o local abrigava o hospital Nossa Senhora D'Assumpção, que possuía residência médica na área de psiquiatria", relembra.
Com cerca de 100 educandos atualmente, a instituição possui uma equipe de profissionais da área da saúde e educação que somam esforços para criar condições favoráveis para o desenvolvimento e a inclusão desses indivíduos. Além disso, o CENSA é um espaço de formação e parceria com escolas públicas e privadas, além de faculdades e universidades. Seus profissionais estão sempre engajados na produção científica de artigos, livros e teses e, com isso, se mantêm atualizados na busca de soluções estruturadas para pessoas com deficiência intelectual e seus familiares.
Serviço
CENSA Betim
Centro Especializado Nossa Senhora D'Assumpção
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